terça-feira, 31 de maio de 2016

Tesouros de Infância

























Hoje vi uns posts no facebook listando o patrimônio que cada um tinha aos sete anos. Achei bem engraçado, mas não quis escrever lá. E eu me lembro muito bem dessa idade: foi quando a minha vó amada morreu. Eu era a mais velha de quatro filhas, uma menina sonhadora, que passou duas férias doente com pneumonia, sem poder ir à praia com as outras crianças, desenvolvendo por isso uma solidão avassaladora. Sentimento que acabou fazendo parte do meu ser. Usava óculos, gostava de ler e escrever e tinha um mundo privadíssimo, onde ninguém entrava, com a exceção de minha avó. Foi um ano bom, apesar de tudo.

Esse era o inventário de meu patrimônio pessoal:
1.  uma casa em cima da mangueira do quintal, feita com tábuas de madeira, com porta, janela e uma escada de corda pra subir até lá. Era pequena e tosca, mas ali eu passava muito tempo, de onde via de cima o telhado da casa e os galhos mais altos, alguns até com mangas em época de safra. Eu subia e recolhia a escada, assim ficava sozinha, onde escrevia, lia e sobretudo olhava pro céu e pensava.

2.  um triciclo velho e com os pneus sempre furados. Tinha ele desde meus 3 anos e, à medida que crescia, fui deixando pra lá e minhas irmãs tomaram conta. Mas era meu.

3. três cristais hialinos (brancos) compridos, grandes, acho que vieram de algum lustre antigo. Foi a minha avó que me deu no dia de meu aniversário. Ela pendurou os três na janela do meu quarto, presos com um cordão, e o sol fazia arco íris sobre a minha cama. Fui acordada assim. E o presente eram as cores tremulas e cintilantes dos arco íris.

4.  livros, livros, livros. Da biblioteca do meu pai, mas também revistas compradas nas bancas, me lembro demais de uma de nome ‘Pirlimpimpim”, com histórias de fantasias, dragões e princesas e lutas de espadas.

5.  uma boneca de papel colorido, daquelas que a gente podia trocar de roupa, e mais um guarda roupa completo pra ela – saias, blusas, vestidos, shorts, calças, sapatinhos minúsculos e até um chapéu. Era francesa. E de tanto vestir e tirar, os pedacinhos de papel das roupas, que a gente dobrava pra encaixar no corpo dela, foram se rasgando e o fim dessa boneca, que nem lembro o nome, foi ser colada nas paredes da minha casa na arvore.

6.  dois carreteis de linha dourada, meu tesouro máximo, acompanhados de agulhas e um dedal de metal imitando prata. Além de uma tesoura bem pequena em formato de pássaro. Isso tudo dentro de uma bolsa de chita colorida, fechada com botões. Nunca tive coragem de usar esse fio de ouro. Também foi presente de minha avó.

7.  um baton vermelho, da marca Coty. Esse eu roubei das coisas de minha mãe mas também nunca usei.

8.  um broche em forma de dois tamancos holandeses, presos por um alfinete, que faziam um barulho de sino quando a gente andava.

9.  vários tubinhos coloridos de tinta aquarela, além de dois pinceis e uma palheta, tudo ressecado, que foram do meu avô. Ela era pintor e aquela era única lembrança dele. Ele me deu, mas nunca usei.

10. um pequeno relógio oval, com numeração em algarismos romanos e ponteiro azul escuro. A pulseira era de couro também azul escuro. Eu achava tão lindo, tão lindo, e tinha muito orgulho de usar. Um dia ele desapareceu das minhas coisas e eu chorei pra caramba. Uma grande perda.

11. um pedaço grande renda de trama complicada, e dez botões de madrepérola, redondos e quadrados. Ainda tenho a maioria desse botões, mas não a renda, que virou um lindo remendo numa camiseta e se perdeu no tempo.

12. uma lata grande de biscoitos, quadrada e vazia, onde eu guardava quase todos esses tesouros. A caixa era tampada e escondida dentro da casa na árvore, mas um dia a irmã mais nova encontrou e fui obrigada e produzir outro esconderijo. A maior parte do tempo ela ficava enterrada no quintal, num enorme bunker que cavei embaixo do pé de dendê que tinha no quintal. Pra brincar com eles, eu precisava esperar que ninguém estivesse olhando pra tirar a caixa do buraco. A tampa do buraco era uma pedra grande, que disfarçava muito bem.

13.  acho que tive um cachorro também, mas não lembro. Em todo caso, era de todo mundo, não era meu.

Acho que foi uma infância boa, bem apertada de grana, mas feliz. Eu ainda fazia um jornal, escrito de lápis em folhas de caderno, com desenhos ou colagens de recortes de revista, onde dava informações sobre as coisas interessantes que andava lendo, além de contar as fofocas da família. Nos dias em que tios e primos se reuniam eu era chamada pra ler os meus jornais. Odiava isso. Queria mesmo ficar sozinha...

O nome do jornal ainda lembro: “Mural Engraçadinho”.
hahaha


sexta-feira, 27 de maio de 2016

As nossas meninas
























Minha neta mais velha tem 11 anos e um corpo de mulher. É muito alta pra idade e tem todos aqueles “atributos”: pernas longas, coxas grossas, bundão. Não tem peitos e nem menstruou ainda. É uma criança, brinca como criança, senta e deita como criança. Porque É uma criança. A mãe conversa muito com as filhas e elas sabem perfeitamente que o corpo é delas, que ninguém pode dizer ou obriga-las a fazer nada que elas não queiram. Sabem sobre relação de poder, sobre papo furado de homem, sobre estupro.

Mas acho tão injusto que com 11 anos minha neta precise saber e discutir essas coisas. Que comece a olhar os homens com desconfiança e um certo medo... Ela e a irmã mais nova não vão sozinhas pra escola, que é um pouco longe, mas tem liberdade de fazer sozinhas trajetos curtos, e escutam mil recomendações. Outro dia saí com ela a pé, a gente estava na Barata Ribeiro, em Copa, em um momento ela ficou mais na frente e eu um pouco atrás. Vi quando um homem de boné se aproximou, com aquele jeito de cobra antes de dar o bote. O coração ficou gelado e eu me preparei pra avançar, quando vejo que ela também notou, se virou e encarou o homem.
- Qualé a sua? Não tem o que fazer não? Vou chamar a polícia! – ela disse alto, com o dedo na cara dele.
Ela é despachada e firme e o homem mudou de rumo e foi embora. Acho que não esperava. Nem eu. Cheguei bem juntinho e passei os braços em volta dela. Ela tremia um pouco, eu tremia muito. Sentamos pra tomar um sorvete e conversar. Ela disse que de vez em quando acontece isso, mas que ela sabe se cuidar. Que ledo engano. Com essa idade a gente acha que sabe tudo. Conversamos, conversamos, até acalmar o coração.
***
Me lembro que com a idade dela sofri meu primeiro assédio. Eu ia e voltava da escola de ônibus e um fim de tarde, ônibus cheio, fiquei em pé, com os livros no braço. Senti um homem se encostando inteiro em minhas costas, e se mexendo, mexendo. Ele estava de pau duro, mas eu nem imaginava o que era aquilo, era uma menina boba, não conversava sobre isso com ninguém. O peso do homem me incomodava e por duas vezes eu o empurrei, mas ele não saiu. Na hora de descer no ponto perto de casa notei que estava com a saia toda molhada e pegajosa – o cara tinha gozado em mim. Na saia do meu uniforme escolar. Quando cheguei em casa e mostrei foi um escândalo, só aí fiquei sabendo o que tinha acontecido.
***
Tenho o coração apertado por essas nossas meninas. Tão cheias de sonhos e tão expostas. Na bolha em que vivo, que nós vivemos, o mundo é menos cruel. Mas tenho consciência que lá fora é uma guerra, as meninas são alvo e não tem apoio nem proteção. Eu digo meninas como forma de carinho, porque sou uma mulher mais velha, mas também sou menina, e elas todas são minhas irmãs. E sei que acontece com elas todo dia, de todas as formas, muitas vezes até com morte. O estupro se tornou banal e isso não pode ficar em silêncio. Meu peito dói de medo e impotência. Choro até ficar mole com tanta barbaridade. Mas não quero me calar. Acabar com o machismo é uma questão de vida ou morte para as mulheres.
***
Esse poema é de Ana Farah, de BH, de quem gosto muito.
É sobre violação e dor da alma.
*
O  choro contido na minha cara de passarinho machucado | eu era todo ouvidos e boca fechada pro abusador | saco de pancadas do psicopata | refugio do esquizofrênico |eu era o último recurso | o sopro boca-a-boca no afogado |o rivotril dos insones | eu era a vaga de estacionar | pra onde eles corriam | a gruta de acolher leprosos | o beco de esconder casqueiros. Eu costumava ser inteira pra eles virem desmoronar | eu era uma beira do cais um desterro | lugar de desmanche, descarrego, um cemitério | meu corpo de ferro velho | ruina. | Virei patrimônio local tombado | por uso e descarte | lugar de despacho | esteira de rodar bagagem. | Eu era toda em peças de encaixe | desmontadinha dentro da caixa | pronta pra ser jogo na vida. | Virei foi destroço num quarto de bagunça | as partes pisadas de uma boneca velha | despedaçada e fora de moda...




quarta-feira, 25 de maio de 2016

As janelas da alma

Hoje fui no oftalmo para marcar a minha cirurgia.
Se tudo correr conforme o previsto, estarei tirando a catarata no próximo dia 6 de julho.
O médico não quer fazer os dois olhos de uma vez. Prefere fazer primeiro o esquerdo, que tem 4,5 de hipermetropia e um mês depois faz o outro.
Por que não fazer primeiro o que está mais comprometido com a catarata, me deixando com apenas 20% da visão? era o que eu faria.
Mas ele diz que prefere liberar logo o olho que uso mais, que sem a catarata vai ficar quase bom.
O olho míope tem 7,5 graus, e está  'preguiçoso', enquanto o outro olho trabalha sozinho, na maioria das vezes. Esse pode ficar pra depois...
Talvez faça sentido.

Hoje fui no centro cirúrgico e peguei uma série de exames que preciso fazer antes da intervenção, queria começar amanhã, mas é feriado... então vamos de sexta feira.
Ele diz que a anestesia é local, mas vai me dar alguma coisa pra dormir, e quando eu acordar tudo terminou. Com dois dias já posso usar o olho...

Confesso que estou bem tensa, só de imaginar um furador de gelo chegando, chegando, chegando cada vez mais perto, pra furar meu olho... caraca, não dá, é impossível.
Só de pensar nisso passo mal.
Me lembro daquele filme do Buñuel, 'Un Chien Andalou", de 1928, todo em preto em branco. Que aliás tinha direção conjunta de Buñuel e Salvador Dali, e foi considerado o maior representante do cinema experimental surrealista. 
Na primeira cena, um homem corta o olho de uma mulher com uma navalha... Uma cena chocante.
Vi esse filme no começo dos anos 70 e a imagem ficou gravada em minha mente para sempre, como um filme de terror.
Depois fiquei sabendo que o homem da navalha é o próprio Buñuel,,,









segunda-feira, 23 de maio de 2016

Macarrão de bruxa















Garotada chegando de repente cheia de fome. Não tive duvidas: apelei pra comida da bruxa, uma tradição familiar.
Na verdade, as refeições da bruxa, servidas pros filhotes desde pequenos, eram feitas com as sobras da geladeira... e eles nunca desconfiaram, sempre adoravam, achavam que era mágica. rsrsrs
Hoje a bruxa (eu) arrasou com um macarrão rápido. 
Fiz assim:
Enquanto água do macarrão parafuso fervia, peguei as sobras da geladeira (terça feira, dia fraco). Depois, numa travessa grande, coloquei meus achados - o peito de frango assado desfiado (tinha pouco), o resto das ervilhas e do brocolis, um pouco de cenoura cozida e cortada, pimentão verde cortado, manteiga, dois ovos inteiros e crus, queijo catupiry (tinha mais ou menos), umas ervinhas frescas da horta e sal. 
Quando macarrão ficou no ponto, escorri enquanto estava bem quente, deixando um pouquinho de água (coisa pouca) e joguei dentro da travessa, mexendo cuidadosamente. Os ovos cozinham com o calor, a manteiga e o queijo derretem, o macarrão fica molhadinho, gostoso e simpático.
E bastante queijo ralado por cima (queijo de saquinho não, pelo amor de deus!)

Tempo de espera: 20 minutos.

domingo, 22 de maio de 2016

Cega e Surda














Desde que me entendo de gente tenho problemas de vista.
Até ha pouco usava lente de contato E óculos, devido à miopia alta no olho direito e hipermetropia idem no esquerdo, alem da vista cansada pelo uso constante do computador. Como meus olhos estão rejeitando as lentes, quebro o galho sem elas e vai tudo bem... quer dizer, ia, porque esses dias o óculos de uso diário quebrou a haste e o reserva não tenho a menor ideia onde está.
E pra completar, com a idade veio uma catarata e o oftalmo diz que preciso fazer uma cirurgia. Nem conto a tensão que fico por causa disso, afinal são meus olhos...
Mas enfim.
Hoje  precisei comprar alguma coisa na agropecuária (traduzindo: armazém que vende tudo, pra quem mora na roça) e fui lá assim mesmo, cega que nem uma porta, como dizia a minha avó. Peguei um táxi porque seria coisa rápida, era só chegar, comprar e voltar...
Chovia muito e o táxi em que eu estava parou em frente à porta do armazém pra eu não precisar descer. Aí falei o que eu queria pro vendedor, e ele foi lá dentro e ficou sacudindo de longe um pacotinho, balançando e fazendo com a cabeça como se dissesse - olha aqui, eu tenho!
Mas acontece que eu não conseguia enxergar direito o que o moço estava me mostrava, estava sem óculos, nem lentes. Mal via o vulto dele e os movimentos... Na verdade, precisava ver bem pertinho do rosto, feito desenho animado e eu não queria descer do carro, nem pagar aquele mico na frente do povo que estava lá.
Então falei:
- Moço não enxergo direito, você pode trazer mais pra perto?
E ele no mesmo lugar, só ficou falando bem alto, quase gritando.
- Só tenho esse aqui, moça...
- Amigo, eu não estou vendo, trás aqui mais pertinho, por favor...
- TOU DIZENDO QUE SÓ TENHO ESSE AQUI, Ó!
Aos berros e sem sair do lugar.
hahahahaa
Porque alem de cega eu também devo ser surda...


sábado, 21 de maio de 2016

Luz do Sol

Dormi de cansaço, com meu filho mais novo nos braços.
Exaustos os dois. Foi uma noite complicada. Um sono picadinho, eu acordando ao menor movimento que ele fazia.
Devo dizer que ele é todo diferente.
Tem crises frequentes de insônia, onde já bateu o recorde de três dias e três noites sem dormir.
E dias de profunda depressão, sem conseguir levantar da cama e encarar o mundo.
O nome disso é transtorno bipolar de humor e as pessoas normalmente confundem com preguiça, ou com acomodação, ou mesmo com fingimento.
Sabem de nada essas pessoas.

Ele ainda por cima tem epilepsia, com crises periódicas bem fortes, tratadas com remédios igualmente fortes, que lhe deixam com gastrite, tremor nas mãos e ultimamente com uma queda de cabelos. Ele odeia tomar os remédios, dois de manhã e dois à noite, e as vezes faz de conta e joga fora e as coisas pioram um bocadinho.
Isso não é mesmo bom, mas até que entendo.

Ele é meu filho e tenho por ele o maior amor desse mundo, embora muitas vezes não consiga entrar em seu mundo hermeticamente fechado. Foi assim desde pequeno... Ele só falou as primeiras palavras com quase cinco anos. A gente achava que ele era mudo, mas nada disso, pra ele era apenas mais fácil dizer com o olhar, já que nós o entendíamos e amávamos tanto. Quando falou pela primeira vez já foi com a frase completa: "posso tomar um suco'? :D
A primeira crise epilética foi ainda bebê, os médicos diziam que era apenas 'convulsão de febre', mas isso não foi bem assim. E o transtorno de humor só conseguimos diagnosticar bem mais tarde. Os dois polos do humor se alternam e ele vive em permanente estado de alerta, com os nervos à flor da pele, e a auto estima baixa, se achando a pior pessoa do mundo, a mais feia, e a mais burra. Querendo morrer "porque o mundo com certeza vai ficar melhor sem mim"...
Ele já tentou fazer isso duas vezes, se cortando e com excesso de remédios.
Cheguei a tempo.

Os irmãos dão a maior força, mas no final é só eu e ele. Para sempre.
Nessas horas de trevas e sofrimento, como ontem, eu só faço dar um abraço bem apertado, coração no coração, resistindo aos seus movimentos desencontrados pra se soltar e apertando bem, 'tou aqui, sou eu', até que ele relaxa e eu tento levá-lo pra cama. Ele é um homem e é grande, bem maior do que eu, mas teve um dia que carreguei como se ele fosse ainda uma criancinha. Não sei como consegui. No dia seguinte estava dolorida e cheia de hematomas.
Amor de mãe.

Às vezes é tudo muito difícil, mas a gente não desiste não. Quero que ele seja feliz, que possa mostrar ao mundo como é inteligente, bonito, amoroso e engraçado. Como é tão bom ser seu amigo. Quero que as pessoas não julguem tanto, não virem as costas... As vezes um sorriso de entendimento, um olho no olho, um abraço, um toquezinho de carinho nas costas, deixam ele feliz por muitos dias e a mim também.
É tão fácil fazer isso. Custa nada, não.
E a gente aprende tanto...

Sim, é um desabafo, apenas isso. Acho que é porque estou meio cansada e botar pra fora alivia. A vidinha aqui é uma eterna busca de delicadezas pra manter a alegria de viver. Pra poder agradecer todo dia - porque estamos vivos e aprendendo muito, sobre tolerância, respeito à diferença, solidariedade.
E entendendo que sempre tem gente vivendo experiências muito piores que a nossa. Tem gente morrendo, por exemplo.

<3


> na foto - célula de neuronio (cor de rosa), com várias sinapses (azul). a comunicação de um neurônio pra outro se dá através da sinapse.




sexta-feira, 20 de maio de 2016

O Jaburu

Piadinha em Brasília:
- Alô, é do Palácio do Jaburu?
- Sim...
- O Jaburu está?

:D

--
O Palácio do Jaburu ganhou esse estranho nome por causa da lagoa em frente, ponto de pouso na rota de aves migratórias, que atraem ornitólogos brasileiros em determinada época do ano.

É o mais feiosinho dos palácios da cidade.
Foi construído 17 anos depois de Brasilia, em 1977, por exigência do então ditador militar General Geisel, para abrigar seu vice.
Acho que o Niemeyer se vingou fazendo esse palácio bem diferente dos outros.

Mas ainda assim é uma construção e tanto. Toda de concreto e vidro, mas cercada de verde e água por todos os lados... Burle Marx fez seus jardins com plantas do cerrado, esse misterioso bioma tão diferente da Mata Atlântica a que a gente está acostumada. Uma área verde lindíssima, na beira da água.
Nem sei se o interino gosta de pescar, passear de barco ou mergulhar na Lagoa, que tem águas limpas. Ou se percebe o privilégio que é conviver tão de perto assim com a natureza.
Mas devia, porque a época de seca em Brasilia é terrivel.


Se eu morasse no Jaburu, acampava no meio das plantas, porque pra mim a parte interna do palácio é muito fria e bem feia.
E acima de tudo é muito cafooooona...












quinta-feira, 19 de maio de 2016

Central do Textão


















Adoro textão. Escrever e ler textão, principalmente de blogs.
Por isso acho essa ideia de juntar tudo no mesmo endereço, uma coisa digna de uma palma de ouro em Cannes. Porque a gente fica querendo ler tanta coisa, mas não tem tempo de procurar e acaba perdendo textões ótimos. E agora encontra tudo num lugar só.
Bem bom mesmo...

Antigamente era mais fácil. Tenho blog desde 2003, e não eram tantas pessoas assim, que eu queria ler. Tinha o Inagaki, tinha o Nemo Nox, o Amarula com Sucrilhos, o DharmaLog, do Nando, o Blowg, da Marina, as Fridas, que vieram logo depois de mim, o Catarro Verde, o blog da Fer Guimarães Rosa, da Giu, da Fal, do Hiro, do Jean Boechat, o Sindrome de Estocolmo, a Mary Feminista Beauvoiriana (rs) e alguns outros que não me lembro.  E era como uma turminha, a gente se lia e comentava e a pessoa demorava um pouco pra responder e a gente demorava outro pouco pra ler... tudo indo na valsa, como o próprio tempo corria naquela época. Embalados pela conexão quase discada que demorava um tempão pra abrir ou enviar. Uma aventura.

Eu na verdade tinha três blogs. O "Tudo Pode Acontecer" era o primeiro e o principal, aonde eu falava quase sempre de musica e teatro, e contava os bastidores de minhas excursões com os artistas, as fofocas, as novidades. Durou alguns anos, até a morte do Ivan, quando parei. Tinha também o "Vitrola da BethS", só de musica, com download para discos fora de catálogo, alguns raros, sempre com uma historinha. A sanha punitiva para downloads online acabou com esse blog, mas ainda recebo emails de pessoas comentando e pedindo pra ele voltar. O terceiro blog teve vida mais curta, era o "Na Cozinha", só com receitas de comida vegetariana.

Fiquei quase dois anos sem blogar, mas quando chegaram as redes sociais, com aquela pressa, com textinhos curtos e provocantes, me deu a maior saudade. O barulho do ambiente ficou muitas vezes insuportável, a turminha virou uma platéia de Rock'in'Rio... Difícil de encarar, quando você só quer o João Gilberto. Ou, melhor ainda, o silêncio... 
E foi assim que criei o "Fragmentos", o blog novo, onde tem de tudo um pouco, o que me interessa no momento. Tem texto, textinho e textão. E fotos e vídeos. Nunca abri pra geral, mantive escondidinho sei la porque. Acho que estava escrevendo mesmo era só pra mim.

Mas essa proposta da Tina Lopes é boa demais. E assim é que estou exibindo meus fragmentos em público, meio timida, mas na maior alegria desse mundo.
Encontrei a minha turma...

PS - Gostei muito da logo do blog...




quarta-feira, 18 de maio de 2016

A Primeira Pedra



As Curvas de Brasília


Já viram uns moveis vintage de desenho impecável, que trazem na frente as colunas das construções de Brasília, criadas por Oscar Niemeyer? São lindos, não é? Esses moveis tem história e foram criados em 1961, especialmente para participar da famosa feira Expo 62, em Seattle, nos Estados Unidos, quando o mundo ficou conhecendo o que poderia ser a civilização do século 21.
Só pra vocês terem uma ideia, quando Brasília foi construída (de 1956 a 1960), o mundo fervilhava com a ideia de novas tecnologias e conhecimento cientifico. Em 1957 a Rússia tinha acabado de lançar no espaço o primeiro satélite artificial da humanidade, de nome Sputnik, que caiu depois de três meses fazendo bip-bip no espaço. E no ano seguinte os Estados Unidos criaram a NASA, agencia especializada em exploração espacial.
Só se falava de futuro no início dos anos 60, e em século 21, espaço sideral, seres extraterrestres... e a nova capital do Brasil era a materialização de todas essas ideias. A imprensa internacional na época chamava a cidade de Lucio Costa e Oscar Niemeyer de “a capital do ano 2000”, “uma das cidades mais originais e emocionantes do século 20”, o “protótipo urbano de uma nova civilização”.

Por isso nada mais coerente que Brasília, a nova capital, representasse o Brasil na “Exposição do Século 21”, mais conhecida como Expo 62, uma feira internacional gigantesca, que reunia cientistas e criadores de vários países, mostrando as projeções para o futuro nas áreas de indústria e comercio, armamentos, eletrodomésticos, automóveis e entretenimento. A feira foi um enorme sucesso. Inaugurada pelo presidente Kennedy, ficou seis meses aberta ao público, atraindo cerca de 10 milhões de visitantes. Dos produtos apresentados nessa feira, alguns ficaram para sempre: os precursores do computador portátil, os fornos de micro ondas e o desenho animado Os Jetsons.
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Foi dentro desse contexto que a indústria Broyhill, do Missouri, criou a sua linha de móveis especiais para a feira, de nome Broyhill Brasilia. Essa empresa fez algumas grandes linhas de mobiliário na década de 60, e uma das mais populares do vintage foi a BroyhillBrasília. O sucesso foi imediato e colaborou para que a classe média americana, de costa a costa, mobiliasse suas residências, agora refrigeradas, com as ‘curvas arrebatadoras e linhas limpas’, da capital brasileira. Os moveis venderam muito, foram o carro chefe da empresa por todos os anos 60, até pararem de ser fabricados em 1970.
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Nos folhetos de lançamento da linha na feira de Seattle, os fabricantes informam que discutiram com Niemeyer durante dois anos para chegar ao design das peças, o que transforma os móveis Broyhill Brasilia nos primeiros produtos com direitos autorais na área do design de mobiliário no mundo.
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Os móveis são feitos em nogueira, com inspiração nas colunas do Palácio da Alvorada e da Catedral Metropolitana. As curvas de Niemeyer estão presentes nas portas de armários, nas estantes, nas frentes de gavetas, pernas de mesas e encostos de cadeiras e até nos puxadores feitos em bronze, delicados e fortes ao mesmo tempo.

Como deixaram de ser fabricados nos anos 70, são hoje artigos de colecionador, vendidos em leilões e antiquários por preços muito altos. Existem até negociantes especializados nessa linha, muito procurados por colecionadores em sites na internet. Eu já vi uma lindíssima estante Broyhill Brasilia num antiquário do Rio, e foi nesse momento que me apaixonei...Pra quem tiver uma graninha mais folgada e facilidade com transporte internacional, os móveis Broyhill Brasilia tambem podem ser encontrados na Etsy e no E-Bay. Aqui no Brasil só procurando em antiquários especializados em móveis vintage...