Dentro do labirinto

Saí outro dia pra fazer umas coisas, encontrei pessoas amigas e acabei indo almoçar na praça de alimentação de um shopping e ah, como detesto shopping... São todos completamente iguais em todas as cidades brasileiras, e acho até que são iguais no mundo inteiro.

Quando entro em um shopping não tenho a menor ideia de onde estou nem pra onde vou. Os corredores são enormes e todos iguais, com a mesma iluminação, as mesmas lojas, os mesmos bancos de madeira tailandesa e aquelas plantas lindas e bem tratadas, que só recebem luz de um sol artificial. 
Eu nunca sei onde é a saída, nunca sei se é dia, se é tarde, ou noite, se chove ou faz calor... Eu me perco, literalmente... O mundo pode estar acabando la fora que dentro de um shopping estaremos para sempre em paz, com uma luz quente e aconchegante e a temperatura exata de uma linda tarde de verão. 
É demais pra mim, não sei lidar...

Acho que os shoppings me boicotam, principalmente nos banheiros, onde as torneiras das pias nunca escorrem água,  fico um tempão passando as mãos pra lá e pra cá, como uma idiota, e nada. hahahaa. 

Mesma coisa com a maquininha que faz barulho e não seca as minhas mãos.

:D

Sou uma pessoa completamente inadequada nos shoppings, sei disso, as lojistas logo percebem e ficam de olho  em mim. Raramente tenho grana pra pagar os preços exorbitantes das coisas, aliás, a verdade é que me recuso a comprar tanta bobagem inútil. As vezes fico muito tentada, são anos e anos de condicionamento, mas depois de um trabalho imenso que venho fazendo comigo mesma, sou cada vez menos consumista. 

E se tiver necessidade de comprar alguma coisa, pode ter certeza de que não será num desses templos do consumo.

Detesto shopping com todo o meu coração. Neles é como se estivesse aprisionada num labirinto perverso, que existe só pra me fazer sentir inadequada, tola e burra.

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Mas não preciso ser expert em compras, tenho outras habilidades que nenhum shopping me dá.

por exemplo: sei cada nota de uma música depois de escutá-la duas vezes, pode ser o Chico ou uma sonata de Haydn, por exemplo... 

Posso dizer em detalhes tudo o que tem numa sala onde entrei algumas vezes, as roupas das pessoas e os livros de uma estante pequena. 

Não esqueço nunca mais de um rosto ou um tom de voz, e sou capaz de me lembrar deles até muito tempo depois. 
Sei cantar, bordar, costurar, cozinhar coisas vegetarianas, sei dançar, assoviar, imitar passarinhos e falar a lingua do P...

E mais uma porção de coisas que nem cabe listar. 

Isso tem igual valor, ou não?

Esse tipo de memória me foi muito útil em todas as profissões que já tive, e por isso eu sigo treinando e me aperfeiçoando, porque ninguém sabe o dia de amanhã.

Mas por mais que eu quebre a cabeça, não consigo encontrar uma razão para que aprenda alguma coisa num shopping. 
Não, verdadeiramente eu detesto shopping.